22 de janeiro de 2011

Qual será o dia do indio?

Para falar do indígena começo com esse pensamento de Orlando Villas Boas.

"Em vez de querer ensinar aos índios, o homem branco deveria ter a humildade para aprender com eles que o velho é o dono da história, o homem é o dono da aldeia e a criança é a dona do mundo".

Na minha pouca convivência com indígenas aprendi lições que me acompanharão sempre: de como o índio sabe conviver com a terra, o meio ambiente e com o próximo.

Embora se diferenciem no modo de falar , pintar o corpo e outros detalhes, os indígenas em todo planeta têm em comum o respeito pela criança, pelo velho e a vivência em grupo onde as decisões são coletivas.

Qual será o dia do índio, quando eles serão reconhecidos como a nação que tem lições para o homem que se diz civilizado e arrasa com a natureza?

Ano de 2009 e o homem branco continua com as ações impensadas contra o índigena e o meio ambiente.
O avanço da tecnologia e o capitalismo a cada dia mais empurram o índio, os bichos para um abismo sem volta.

Todos os dias devem ser lembradas as lições do krahô, do korubo e tantos outros que vivem ainda em pequenos torrões de terra amedrontados com um futuro que está nas mãos do homem branco.

Amanhã se comemora o dia do índio, e nada melhor para refletir sobre sua situação com o texto que transcrevo aqui do indigenista Walter Sanches:

"Os índios Avá-Canoeiro, habitantes da região de Serra da Mesa, norte goiano, compõem atualmente uma família de seis pessoas. Eram quatro, quando em julho de 1983 renderam-se aos fazendeiros locais. Perseguidos e dizimados, a sina dessa Etnia coloca hoje seus sobreviventes em circunstância atípica entre os demais e não menos aviltados povos indígenas brasileiros.

Em 1990, quando cheguei para trabalhar no Posto Indígena de Atração Avá-Canoeiro, encontrei-os – quatro adultos e duas crianças – comendo açúcar cristal em panelas de alumínio e bebendo óleo de soja em copos de vidro, deliciados com as recentes descobertas gastronômicas e das quais ainda não haviam assimilado a prudência do uso.

No posto da FUNAI existia um fogão à gás, e as mulheres, não raro, detinham-se diante dele, acariciando o bujão e sonhando ter um igual na “oca”. “Este fogo bonito, bom muito!” - murmuravam diante da chama azul. Iawí, único homem adulto do grupo (o outro era Trumak, seu filho, de 3 anos) sonhava, por sua vez, com uma casa de telhas francesas. “Buriti presta não”, costumava dizer, referindo-se aos telhados regionais feitos com a palha dessa palmeira, que, devido aos novos hábitos alimentares – leia-se sal e açúcar – tornavam-se o esconderijo/criatório escolhido por milhares de baratas infernizando a vida doméstica.

Sua morada, que achávamos por bem continuar chamando de “oca”, não passava de um triste e frágil casebre coberto de folhas de zinco, entulhado de molambos e trastes inúteis, o lixo cultural adquirido da sociedade envolvente, não tendo para eles grande importância e sim para os répteis e insetos que dali faziam seus pontos de proliferação.

Aceitavam como amigos, tutores ou anjos da guarda aqueles que devassavam e depredavam a terra indígena ainda não demarcada. Conviviam amistosamente com caçadores e pescadores vorazes, muitos vindos de longe no faro dos últimos tamanduás, tucanos e jaús, numa matança infernal a que eles, índios, entre a apatia e a perplexidade assistiam calados. Nunca, entretanto, demonstraram disposição para voltar à mata em busca da dignidade, da autonomia e do sossego perdidos; já traziam intransponível dependência da sociedade regional, etnocêntrica e perversa, mesmo assim arvorada em “aculturá-los”.

E fugir, para onde? Onde quer que se escondessem haveria um minério a ser garimpado por estranhos, uma fazenda a ser instalada, estradas ameaçando romper a aldeia, eventos que para eles jamais trouxeram qualquer benefício, e, de concreto, apenas o genocídio.

Como esperar uma reação libertadora daquela Nação mortalmente ferida, reduzida a quatro viventes, havendo travado seus primeiros contatos conosco somente nos anos 80, rendidos e traumatizados por nossa truculência emocional e tecnológica? Cabia-nos, evidentemente, garantir àquele pequeno grupo étnico o máximo de segurança para continuar vivo e conseguir transpor, com a força dos derradeiros resquícios culturais ainda mantidos, os grilhões da nova e sutil emboscada em que vieram a cair, porque o resto fazia parte de um passado cada vez mais remoto.

Hoje, a Terra Avá-Canoeiro, ainda distante da homologação, serve de palco para a festa das hidrelétricas. Terrenos fundamentais para roçados submergiram a imensos lagos artificiais, enquanto longos e perigosos corredores de fios de alta tensão vão multiplicando-se dentro da “reserva”. Tudo sem qualquer ressarcimento efetivo e honesto que busque minimizar tamanha e indesejável interferência no mundo e na vida dos índios atingidos. E eles também sobreviveram a essa realidade, porém, não se reproduziram mais. A quem, de sã consciência, ocorreria deixar para seus filhos uma herança dessas?"



Amigo Walter continuo dizendo:

... durante séculos o homem branco deixou como herança para o indígena uma grande solidão e um futuro incerto.

9 de janeiro de 2011

Meu curriculo

A MAGIA DE ESCREVER

Embora seja apaixonada por poesia, - a cada instante me nasce uma e assim sinto a vida crescendo, ficando longa, às vezes eterna...
Ler e escrever para mim é como respirar, viver, não poderia ficar sem. Os livros me vieram numa época distante, quando ainda eram proibidos (pela mãe), tive o privilégio de ser curiosa quanto à eles, driblando todos e lendo tudo que as mãos e os olhos alcançavam. Acredito que a vontade de ler era tanta, que misteriosamente eles me chegavam, como que atraídos.
Sempre quis incutir nas pessoas à minha volta o hábito da leitura. Diante disso fui registrando fatos corriqueiros, datilografando e passando para os vizinhos, parentes, e assim, achavam mais fácil que os poemas e liam com avidez, até mesmo quem radicalmente era contra queria soletrar os causos que eram próximos de sua realidade, de linguagem acessível; e inconscientemente adquiriam o hábito da leitura, nem que seja dos causos familiares à eles. Cobravam por mais e eu escrevia o esboço da vida de cada um, nascendo leitores e escritores que me mapeavam textos. Foram muitos textos e o contato com essas pessoas me fizeram crescer e viver mais.
Tenho o curso primário (4ª série ) incompleto, o que me vale é a curiosidade quanto aos livros, ao saber, à vida.

As palavras me entraram e ficaram como por milagre, assim como a poesia hoje nasce rápida, sem métodos e técnicas, também a escrita veio sorrateiramente como um veio d’água inundando a vida. É uma paixão pela palavra, pelo poema, levando os sonhos ao papel, e aí insisto, é mágico.

Referências
Causos e estórias 2 volumes pela UCG
terceira em edição
Poema em antologia –Ed Kelps Goiânia
Poema em Antologia – Ed Andes – DF
Cronista Oficial dos Encontros de Culturas da Chapada dos Veadeiros
Cronista do Overmundo site patrocinado pelo Ministério da Cultura www.overmundo.com.br
Pesquisa com os Krahôs Tocantins pela Universidade Federal de Goiás – FACOMB
Presidente da Comissão de Folclore da Região de Serra da Mesa – Comissão Folclore Estadual – Bariani Ortêncio
Pesquisadora para o Museu de Alto Horizonte
Livro em edição “Memórias de Serra da Mesa” (rascunho)
Coordenadora do Memorial Serra da Mesa

MOMENTOS

A rua repleta de gente desperta para a realidade de uma multidão de pessoas que falam línguas estranhas, indiferentes ao pequeno, ligadas às futilidades esquecendo, sobretudo a vida...
O carroceiro levanta forte o chicote, o esqueleto magro do cavalo sobe a avenida puxando a carroça de areia, ele tem alma que o carroceiro não vê...
O pequeno engraxate entra e sai das lojas comerciais, seu rosto criança corre atrás de dinheiro e até mente dizendo que só engraxa no final de semana... O que ele esconde por trás dos olhinhos tristes? Não é só ir para o Muquém...
O bêbado é dono da rua, disfarça sua dor na embriaguez, só assim ele é maior e eterno...O cachorro faminto o segue em círculos...
Volto pra casa cansada de tudo e ao chegar escuto o gemido do córrego que insiste em correr fugindo do lixo, dos esgotos e do homem...
O calor é insuportável, minha dor é maior... O vento carrega o mau cheio do esgoto, enxuga as lágrimas e foge rápido para não testemunhar a imbecilidade do homem...
Minha casa é grande demais hoje, porém não cabe as lágrimas...
Consulto o espelho e ele mostra as olheiras que refletem os anos, o cansaço e a solidão...
Escrevo, brigo, denuncio para fazer um mundo melhor; mas quando tento encontrar o outro dou de cara comigo só, muito só...